Wednesday, September 26, 2007

quando atravessares o Rio

“ ... dias antes, encontrara o actor dos seus livros. O protagonista dos seus livros. E a mulher dos seus livros parecia-se com ela mesma ...
Talvez as personagens dos seus livros estejam a ganhar vida.
O que acontece às personagens quando o escritor vai embora ?
Os livros de um escritor estão contados. E depois ele fica sozinho com os seus demónios. Ela mesma escrevera essas palavras, alguns anos atrás” (pág. 20)

“O seu aspecto habitual era o que tinha nos concertos, quando parecia estar em oração. Um abandono absoluto, deitada na margem Serpentine, sentada numa carruagem de metro, num muro à beira do Tamisa, na relva junto à National Gallery, nos degraus da Igreja de St. Martin-in-the-Fields. Um eterno estado de graça. Um anjo vindo do princípio do mundo, que atravessara os milénios intocados e sem memória. Era talvez por isso que o mundo se tornava num lugar solitário onde quer que ela estivesse.” (pág. 45)

“O que acontece às personagens quando o escritor vai embora? E a outra pergunta, muito mais terrível: o que acontece ao escritor?
Mas ela conhecia a resposta. O escritor ficava sozinho com os seus demónios. Completamente sozinho com os seus demónios.” (pág. 50)

Extractos do último livro de Ana Teresa Pereira “Quando Atravessares o Rio”, extractos daquele que podia muito bem ser o seu primeiro livro .....

e no fim escreve assim "Ela sempre achara muito fácil entrar e sair na eternidade.".

3 comments:

passarola said...

uau!! tenho de arranjar lugar na mesa de cabeceira para mais um! :)

Anonymous said...

Acaba de ganhar mais um prémio com "A Neve". Ana Teresa Pereira é um bom exemplo de quando a literatura se torna maravilhosamente circular...

bitsounds said...

pois é L. mas por vezes essa circularidade acaba por cansar um pouco, não fosse a identificação pessoal com as suas referências e já não a lia com tanto prazer ....

huuuuum, por acaso não li a "A Neve" mas sei quem me pode emprestar :)

bj